Três dimensões da não neutralidade tecnológica: um esforço de sistematização na perspectiva das plataformas digitais de trabalho
Palabras clave:
Tecnologia, Plataformas Digitais de Trabalho, NeutralidadeResumen
Objetiva-se investigar o intrigante contraste entre ubiquidade e neutralidade tecnológica, máxime diante do fenômeno contemporâneo das plataformas digitais de trabalho, perquirindo-se, mais precisamente, a veracidade da assertiva de que a tecnologia seria neutra quanto a fins, valores e subjetividade humana. Esse fenômeno de facilitada adesão social à narrativa da “neutralidade” tecnológica é apreciado sob o prisma justificador do liberalismo tecnológico. Na esteira de uma incursão multidisciplinar, entremeando direito e filosofia, conclui-se que, em maior ou menor grau: i) a tecnologia, em si, pode ser boa ou má, independentemente de seu uso; ii) a tecnologia, em sua concepção, criação e aplicação, exprime opções humanas e, logo, veicula normas e valores sociais; iii) a tecnologia promove interferências na subjetividade humana, passando longe de ser um item puramente técnico, apartado e distante do homem que o cria e usa. É dizer: a tecnologia – inclusive as plataformas digitais que intermedeiam o trabalho humano – não é neutra seja quanto a fins, seja quanto a valores, seja quanto à subjetividade. Instiga-se, em arremate, pela migração do foco de reflexão do paradigma da neutralidade para o paradigma da ambivalência. A pesquisa é qualitativa, eminentemente bibliográfica, tendo sido utilizado o método hipotético dedutivo.Descargas
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